Fanny Abramovich
Gostosuras e Bobices
Ah,
como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas,
muitas histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem e ser um
leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de
descoberta e de compreensão do mundo...
O
primeiro contato com um texto é feito oralmente, através da voz da mãe,
do pai ou dos avós , contando contos de fada, trechos da Bíblia,
histórias inventadas (tendo a criança ou os pais como personagens),
livros atuais e curtinhos, poemas sonoros e outros mais... contatos
durante o dia - numa tarde de chuva, ou estando todos soltos na grama,
num feriado ou domingo- ou num momento de aconchego, à noite, antes de
dormir, a criança se preparando para um sono gostoso e reparador e para
um sonho rico embalado por uma voz amada.
Ler
histórias para crianças, sempre, sempre... É poder sorrir, rir,
gargalhar com as situações vividas pelas personagens, com a ideia de
conto ou com o jeito de escrever do autor e, então poder ser um pouco
cúmplice desse momento de humor, de brincadeira, de divertimento...
É
também suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida em relação
a tantas perguntas, é encontrar outras ideias para solucionar questões
(como as personagens fizeram...) É uma possibilidade de descobrir o
mundo imenso dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos
e atravessamos - dum jeito ou de outro - através dos problemas que vão
sendo defrontados (ou não), resolvidos (ou não) pelas personagens de
cada história (cada um a seu modo)... É a cada vez ir se identificando
com outra personagem (cada qual no momento correspondente àquele que
está sendo vivido pela criança)... e, assim, esclarecer melhor as
próprias dificuldades ou encontrar um caminho para a solução delas...
É
ouvindo histórias que se pode sentir (também) emoções importantes, como
a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a alegria, o
pavor, a insegurança, a tranqüilidade, e tantas outras mais, e viver
profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouve - com
toda a amplitude, significância e verdade que cada uma delas fez (ou
não) brotar... pois é ouvir, sentir e enxergar com os olhos do
imaginário!
É através duma história que se
podem descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e
de ser, outra ética, outra ótica... É fica sabendo História, Geografia,
Filosofia, Política, Sociologia, sem precisar saber o nome disso tudo e
muito menos achar que tem cara de aula... Porque, se tiver, deixa de ser
literatura, deixa de ser prazer e passa a ser didática, que é outro
departamento (não tão preocupado em abrir as portas da compreensão do
mundo).
Para contar uma História - seja qual
for- é bom saber como se faz. Afinal, nela se descobrem palavras novas,
se entra em contato com música e com a sonoridade das frases, dos
nomes... Se capta o ritmo, a cadência do conto, fluindo como uma
canção... Ou se brinca com a melodia dos versos, com o acerto das rimas,
com o jogo das palavras... Contar histórias é uma arte... é tão
linda!!! É nela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido, e por
isso não remotamente declamação ou teatro... Ela é o uso simples e
harmônico da voz.
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